Surfe
Passado, presente e futuro do surf.
Personagem marcante, Dadá Figueiredo ficou conhecido pelo estilo explosivo, dentro e fora d'água. Em um bate-papo sobre passado, presente e futuro do surf, ele fala de sua vida, profissionalismo, skate, SUP, o filho Dávio, Kelly Slater, música e o documentário sobre sua história que ficou pronto, mas nunca foi pra rua.
Oi Dadá, como estão as coisas por aí, tem pego umas ondas?
Cara, eu tenho uma escola de surf, tem épocas que não dá muita onda e quase não surfo. Eu 'shapeio' também, então quando não estou dando aula estou 'shapeando' e não tem como ficar saindo pra Prainha, coisa e tal… Mas esse final de semana deu umas marolas e fiquei revezando entre SUP e pranchinha…
De manhã cedo eu caio de SUP e quando começa a ventar eu caio de pranchinha.
Como surgiu esse gosto pelo SUP?
Ao lado da minha escola tem uma guarderia de windsurf e o pessoal começou a deixar muito stand up ali. Me interessei e fiz um pra mim, comecei há uns três anos e não parei mais. No início usava um maior, mas fui diminuindo e hoje eu surfo com um 8 pés. Também gosto de remar e dar uma passeada na lagoa da Barra, mas só quando a água está mais clara, pois a lagoa aqui é muito suja. Ano passado eu fiz um campeonato com duas categorias, surf e stand up e, há uma semana, fiz um SUP treino pra rapaziada.
Você acha que o stand up ajuda a evoluir o surf de pranchinha?
Eu acho que evolui. Você força muito o corpo e as pernas, então quando pega a pranchinha sente ela muito solta. Mas tem que mesclar, não pode ficar só no SUP e, de repente, ir pra pranchinha, senão a diferença é enorme. Tem que pegar de SUP e de pranchinha… uma hora de SUP te dá muito preparo, é como se fossem três horas de surf e, quando tu vai pra pranchinha, chega com um preparo animal, sente a prancha bem solta no pé.
Falando em pranchinha, como era surfar com pranchas recapadas, só com uma quilha starfin no meio?
Quando eu era mais novo eu pegava as pranchas velhas e desencapava, daí saia umas pranchas bem pequenas, tudo 5 pés, single fin.
Depois comecei a fazer biquilha, mas voltei pras single fins, com umas quilhas lá na frente… as pranchas eram super soltas.
Então eu passei pras triquilhas, mas não gostei e voltei pra starfin. Mas o problema é que ela fazia muita linha, ela até corria mais que uma single fin normal, mas não quebrava muito a linha e era justo a época que o circuito mundial passava por um monte de picos ruins que exigiam um surf quebradão. Você tinha que fazer várias manobras em um espaço pequeno de onda e a starfin não se encaixava nisso.
Outro problema é que o strep enrolava na quilha e não soltava. Às vezes você estava surfando na bateria, ou até mesmo no freesurf, e passava a onda inteira com o strep preso no fundo.
Você sempre foi um cara que arriscou muito nos shapes, tem feito alguma coisa diferente atualmente?
Não muito, tenho usado umas pranchas menores, mas acho que todo mundo está usando. Tenho feito umas 5'6" quadriquilhas, pranchas de forma e epoxi… as pranchas de forma funcionam pra caramba, mas dão mais trabalho de fabricação. Ficam bem leves, fortes, muito maneiras… você não lixa a prancha, ela já sai lizinha da forma, mas dá um trabalho legal, mais trabalho que as pranchas normais…
Você foi o cara que trouxe o skate pro surf e mostrou o futuro, na época. Quem você acha que é o futuro do surf hoje?
Cara, eu acho… posso até estar errado, mas eu acho que os caras do freesurf é que estão inovando. São os caras que não correm muito campeonato e têm essa liberdade de inovar. Eles ficam tentando fazer certas coisas que… entendeu? Tipo Dane Reynolds e essa galera aí. Daí os caras que competem começam a imitar.
Então, pra mim, os caras do freesurf, que estão fazendo filmes de surf e que fazem várias manobras tiradas do skate, é que estão inovando…
O competidor fica mais naquele feijão com arroz, tudo bem que hoje tem aéreo pra caramba, mas eu acho que os caras do freesurf são mais inovadores.
E como era a cena do skate quando você começou a andar, chegou a competir no skate também?
Eu comecei a surfar antes de andar de skate, mas aí comecei a andar e me dei bem com o pessoal. Foi bem no começo mesmo, cheguei a ver neguinho andando de skate com roda de patins… desmontar patins pra fazer skate. Era um negócio bem surf, como se estivesse surfando no asfalto. Então, como eu morava longe da praia e não podia surfar toda hora, eu usava o skate pro surf e foi o que me deu a base.
Eu comecei a ver os caras andando nas pistas e mandando aquelas desgarradas e passei a gostar daquilo e aplicar no surf.
Eu não era profissional, já tinha uns caras profissionais na época, mas eu gostava de andar porque me ajudava no surf. Só que com uns 14, 15 anos, eu comecei a ficar mais independente e ir à praia sozinho, daí fui largando o skate, mas aquilo me deu a maior base. Até hoje eu dou um rolê e me amarro.
Eu sabia que neguinho ia começar a fazer aquelas manobras do skate no surf, era uma questão de tempo. Hoje eu vejo como eles estão surfando e me dá a maior alegria, pois era aquilo que eu queria fazer na época.
Falando em evolução no surf, o que você lembra quando viu o Kelly Slater pela primeira vez?
Achei que era um moleque que pegava bem, mas não me impressionou muito.
A primeira vez que eu vi o Slater foi em Off The Wall, ele estava caindo do meu lado, era um molequinho e eu não achei nada demais.
Era um bom surfista, mas não fiquei impressionado. Depois de uns anos encontrei ele na Europa e já estava arrebentando com aquelas pranchas estreitinhas, apresentando um surf inovador.
Você assiste as etapas do WCT?
Pra falar a verdade, eu não acompanho mais o surf desse jeito, de ficar vendo campeonato. Eu estou mais curtindo o surf, meu estilo de vida mesmo.
Eu não aguento mais ficar vendo bateria, é muito chato. Esse negócio de palanque, bateria, campeonato… já estou saturado, foram muitos anos vivendo aquilo.
Recentemente saiu um filme do seu filho Dávio, em Lobitos. O que você encherga no surf dele e se identifica, e o que te surpreende?
Eu acho que ele tem aquela vontade de surfar, igual eu tinha. Eu não pensava em nada, corria os campeonatos e já era… o negócio era surfar, e eu vejo isso nele. Mas, hoje em dia, não está mais assim, o negócio é mais profissional e eu digo isso pra ele… tem que se dedicar mais, ficar mais atento pra certas coisas. O surf está muito difícil aqui no Rio, surf amador, surf profissional… tá quase sumindo, entendeu?
Tem muito surfista, mas todo mundo quer surfar por prazer, ninguém quer ficar em um campeonato esperando bateria.
Ainda tem esses problemas de associação e federação, que ao invés de ajudar acabam atrapalhando, embarreirando evento… Então é bem preocupante a situação dele, pois ele está querendo ser um surfista profissional e eu não vejo pra onde ir... Daqui a pouco ele vai se tornar um profissional e não vai ter campeonato profissional, não vai ter circuito profissional… não sei se haverá campeonato brasileiro… não está tendo um campeonato brasileiro… e isso é péssimo. Eu falo pra ele, você tem que surfar, mas ficar atento, porque poderá ter que partir pra outra, infelizmente.
E o Radical, documentário sobre sua história que prometia ser lançado final de 2012, como ficou?
Pô, o cara começou, terminou, mas não vai em frente… diz que está faltando verba, está faltando imagem… mas na verdade não está faltando imagem. O cara quer umas imagens que custam uma grana… e tem um outro cara que ficou de ceder umas imagens, mas, de repente, não quer ceder porque não é ele quem está fazendo… Então, já tem mais de um ano que eu não falo com o cara… mas ele praticamente terminou, tem material pra fazer dois documentários, dois vídeos meus… não sei porque ele nunca mais falou comigo, ficou até um negócio estranho e muita gente me pergunta…
Você sempre gostou de tocar, fazer um som, que tipo de música está ouvindo?
Tenho ouvido de tudo, principalmente punk e hardcore anos 80… o old school é o que eu mais gosto, esse hardcore novo, com muito metal, eu não curto.
Você é ligado em tecnologia, baixa música, mp3… ou ainda põe os LP's pra rodar?
Não, eu não tenho mais nada (risos). Eu só escuto música no computador, não escuto música no meu carro, não ponho fone… ou eu estou tocando, ou estou na internet ouvindo música.
Não curto mais dirigir ouvindo música. Nem antes do surf, nem depois do surf.
Meu filho também toca… aqui em casa tem baixo, guitarra… tem até um mini estúdio que está desmontado agora, mas, de vez em quando, rola um som.
Pra finalizar, quer deixar algum recado?
Não sei… acho que é isso aí… o negócio é viver a vida... cada um tem um estilo e é preciso respeitar.