Em 2017, Djonga foi um dos nomes que brilharam no rap nacional. O jovem rapper surgiu na cena através do grupo mineiro DV Tribo, e em pouco tempo de carreira já colaborou com vários grandes artistas. Ele aparece no remix de "Atleta do Ano" do Mob79 e na cypher Poetas no Topo, da Pineapple Supply. Este ano ele também lançou seu primeiro disco, "Heresia" [ouça no player abaixo], que o colocou definitivamente dentro do game.
O rapper de 23 anos, nasceu em Belo Horizonte, na Favela do Índio e cresceu no bairro de São Lucas, Santa Efigênia. Começou sua carreira na rua, participando de saraus de poesia, onde cresceu seu interesse pelo rap e logo começou a escrever suas próprias letras. Criou a DV Tribo ao lado do Hot Apocalypse, FBC, Clara Lima, Oreia e Coyote Beats e foi conquistando seu espaço na cena. Hoje, Djonga já é respeitado por clássicos do rap, mesmo com pouco tempo de carreira.
Conversamos com ele pra sacar como foi sua caminhada pela música desde o início de sua carreira até o lançamento de seu primeiro disco. Confira abaixo.
Você é de BH e participava do grupo DV Tribo. Me conta um pouco da sua trajetória desde o início de sua carreira, quando participava de batalhas de MC até agora.
Eu comecei minha carreira num sarau de poesia, chamado Sarau Vira-Lata. Foi na época em que os movimentos independentes de rua de BH estavam muito fortes, existiam vários saraus espalhados pela cidade. Esse movimento de rua também era político, funcionava como um protesto contra o prefeito da cidade, por isso era tão forte.
No começo, por volta de 2012, quando eu estava me formando no Ensino Médio, eu frequentava saraus apenas para ouvir. Foi neste momento que me interessei por fazer poesia, e aí tudo começou. Em seguida, o rapper Hot Apocalypse me convidou pra montar um grupo com ele, e começamos a frequentar o estúdio do Chuck, conhecido como Oculto Beats. Ele produziu um beat pra mim e eu acabei rimando em cima com uma poesia que eu havia escrito há muito tempo. Foi aí que eu gravei e soltei meu primeiro single, “Corpo Fechado”.
Depois de um tempo produzi, junto com o Coyote Beats, um disco chamado “Fechando o Corpo”, com sete faixas. Tem ainda uma faixa bônus com o DJ1. Nessas eu fui conhecendo as pessoas da cena aos pouquinhos e conquistando meu espaço.
Até que eu o Hot criamos a DV Tribo e convocamos os MCs FBC, Clara Lima, Oreia e Coyote Beats pra participar. A DV Tribo foi dando certo, até que fizemos uma cypher com a Pirâmide Perdida, que nos deu bastante visibilidade. Depois disso a coisa foi evoluindo bastante. Fui convidado para fazer várias participações com outros rappers, e o público foi gostando. Até que conheci o Baco Exu do Blues, e ele me chamou para participar de “Sujismundo”. A música “bombou”, e as coisas mudaram ainda mais.
E esse nome "Djonga", da onde surgiu?
O Hot chamava todo mundo assim. Na verdade não tinha muito um significado, era só uma palavra aleatória que ele gostava de falar, zuando o pessoal. No Sarau Vira-Lata a gente escrevia o nome das pessoas no papel para elas recitarem poesia. Um dia, eu estava atrasado e pedi para ele escrever o meu nome no papel, e ele escreveu “Djonga”. Quando chamaram “Djonga”, o pessoal riu e fui lá recitar. Foi algo que marcou, e eu fui virando “Djonga” aos poucos. Descobri o significado depois, que nem o própria Hot sabia, que é “sonolência observadora”. É uma pessoa que está na dela, mas nada passa batido.
O rap sempre fez parte da sua vida? Quando começou a se interessar pela música?
Minha família faz muita festa, e festa sempre tem muita música. Eu estava sempre ali, curtindo um som o tempo todo. Para limpar a casa, minha mãe ouvia um sambinha, como Cartola, ou então música pop, como Mariah Carey e Celine Dion. Também rolava bastante discoteca e Jovem Guarda. Algumas coisas eu gostava muito, outras não. Isso me fez ter um gosto bem eclético. Quanto mais velho fui ficando, mais eu fui tomando gosto pela música, e entendendo meu estilo, o que eu curtia mais, como o funk, que também sempre esteve presente. O rap entrou na minha vida quando eu tinha uns 7 ou 8 anos de idade, bem novinho, por meio de um disco d’Os Racionais.
Como todo preto desse país, como toda preta desse país, tentaram tirar minha auto estima, eu e meus irmãos e minhas irmãs, fomos atrás dela e ela nunca esteve tão elevada
Quem é sua maior inspiração?
Minhas maiores inspirações sempre foram Cazuza, Janis Joplin, Elis Regina, Elza Soares, Jimi Hendriks, MC Smith, além do Mano Brown, que para mim é uma inspiração além de música; é uma inspiração social, cultural, de posicionamento político e atitude.
Este ano você lançou seu primeiro álbum, "Heresia". Me conta um pouco sobre a produção dele.
Eu já tinha o “Fechando o Corpo”, que foi um processo diferente. Eu ainda estava aprendendo, então considero o “Heresia” meu primeiro álbum mesmo. Tudo começou com a gravação da música “Atletas do Ano”, que fui convidado a fazer junto com os meninos do MOB79, e que teve participação também do DonCesão, Febem e BK. Foi o primeiro contato que eu tive com o DonCesão e o Febem. Ele me falaram que estavam abrindo um selo, a CEIA, e me chamaram para participar. Disseram que gostariam de contribuir para o meu trabalho. No primeiro dia, o Febem já me mandou um beat, que acabou sendo utilizado na música “Entre o Código da Espada e o Perfume da Rosa”. No dia que conversamos, já começamos a produzir o disco. Neste contexto a CEIA foi superimportante. Eu já tinha a ideia do disco há muito tempo, mas eu não sentia que ainda não estava preparado para produzi-lo. Senti que era a hora certa quando fui convidado pela Ceia. Na verdade, eu nem sabia que estava sendo visto por essas pessoas. Minha mulher na época estava grávida, e eu precisava me consolidar para conseguir trabalhar com o rap mesmo, e eles me deram todo o apoio para isso. Gravei o álbum no Rio de Janeiro, no Brainstorm Studio; o conceito da capa foi construído com o Mateus Aragão, e quem fez foi o Assis, um camarada nosso que fez também a capa de um dos álbuns do DonCesão. Essa experiência me ajudou a entender a responsabilidade do que é produzir um disco. Foi muito legal juntar as minhas referências e produzí-las num álbum. Foi um processo que me ajudou a ter autoconhecimento como artista.
Com pouco tempo de carreira, você já é respeitado por clássicos do rap, como o Mano Brown – que pediu para participar de um videoclipe seu. Como isso aconteceu?
Isso de ser respeitado pelos clássicos do rap eu acho que quem dá respeito tem respeito. Acredito que isso acontece com quem fala a sua verdade, não pisa no calo de ninguém, ou pisa nos calos certos. Fiz tudo por mim mesmo mais do que por qualquer outra coisa. Não era para aparecer ou para brigar com alguém. Acho que é isso eu acho que é o que as pessoas respeitam. Tento sempre falar de coisas importantes, assim como esses clássicos também falam, e acredito que eles veem no meu trampo as referências do trampo deles. Estou aprendendo ainda, mas aprendi bem com eles.