Todos Nós 5 Milhões
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Um papo com o diretor de "Todos Nós 5 Milhões"
Assista ao trailer inédito do documentário dirigido por Alexandre Mortagua
Escrito por Luana Dornelas
4 min de leituraPublished on
Alexandre Mortagua é um jovem diretor que vem se destacando na cena audiovisual nacional. Provavelmente você já tenha visto alguns de seu trabalho por aí, como o clipe "Clark Book", da Lia Clark, "Dança pra Mim" do cantor Jão e "Direção", da Manu Gavassi.
Desde 2015 ele está à frente da produtora O Baile, que criou ao lado de Sara Mariel, Isadora Corrêa, Ninna Carim, Giuliana Nunez, Alice Kollwitz, Vittoria Puig e Marco Paes. Juntos, eles realizam produções audiovisuais, como videoclipes, documentários e curtas-metragens.
Agora, o diretor se prepara para lançar seu primeiro longa-metragem "Todos Nós 5 Milhões", que aborda o abandono paterno no Brasil. O filme foi baseado num dado do Censo Escolar de 2013, divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça: existem 5,5 milhões de crianças sem o reconhecimento paterno no Brasil. A equipe de produção trabalhou na pesquisa e planejamento do projeto por dois anos e conseguiu tirar o filme do papel por meio de financiamento coletivo.
"O que eu mais quero é que a gente possa discutir as ideias erradas que todo mundo tem em torno da paternidade X maternidade, e, indo um pouco mais longe, homem X mulher", conta o diretor.
O trailer do longa você confere com exclusividade aqui no RedBull.com:
Alexandre também nos contou um pouco sobre o processo de criação do longa. Confira o papo abaixo.
O filme aborda o abandono paterno no Brasil. Quando que surgiu a ideia de criar este projeto?
A ideia da produtora é que os diretores dos projetos potencializem experiências próprias pra discutir questões sociais. É o que a Sara Mariel, diretora da produtora também, vai fazer com o primeiro longa-metragem dela. É um híbrido de ficção e documentário sobre colorismo... E foi assim que o "Todos Nós 5 Milhões" nasceu, no chão da sala da minha casa, a partir de um pouco do que eu vivi.
Qual é seu maior objetivo com ele?
Acho que o filme discute tudo que 2017 propôs que a gente discutisse mas de uma forma muito afetuosa. O que eu mais quero é que a gente possa discutir as ideias erradas que todo mundo tem em torno da paternidade X maternidade, e, indo um pouco mais longe, homem X mulher. Essa forma afetuosa e sem afetação que o filme fala de assuntos como direito ao corpo, violência de gênero, vai facilitar esse diálogo com o documentário.
O filme tem uma parte documental e uma parte ficcional. Me conta um pouco sobre cada uma delas.
A parte documental é muito objetiva: mães solo, filhos abandonados e pais omissos contando sobre suas vidas. Foi um número considerável de entrevistados e muito diversos, em personalidades e histórias. Nas entrevistas, um homem disse com todas as letras que abandonou 5 crianças (uma até fora do país) e que a culpa era das mães delas. Uma coisa que há um ano e meio atrás eu duvidei que fosse ouvir.
A ficção surgiu da necessidade de não fazermos um filme que transformasse em espetáculo a vivência daquelas pessoas, sabe? É uma história muito bonita (também) sobre mulheres se unindo em torno de uma criança. É sobre o buraco do abandono paterno mas também sobre tudo que preenche e transborda esse buraco.
Você conversou com diversas pessoas ao longo da produção. Quais foram as melhores experiências que trouxe disso?
Acho que foi o choque de cultura, mesmo. Como algumas pessoas tratavam com total desdém uma parte delas estar andando por aí. Não imaginava mesmo que houvesse essa naturalização, por todas as partes. Eu imaginava que houvesse algum incômodo nesses homens, hoje já não coloco minha mão no fogo. Mas acho que a melhor parte foi ressignificar uma parte do que eu vivi, trabalhando com mulheres muito fodas, reafirmando tudo que eu achava sobre as mulheres que trabalham e criam comigo, sobre como elas são fodas pra caralho, sobre a minha mãe, sobre a minha avó, minha tia, minha madrinha... Foi bem foda.
E o lançamento do filme está previsto pra quando?
Em janeiro eu envio o filme pra pós-produção de áudio, colorização, enfim, os processos de finalização... Acho que em maio o filme deve estar pro mundo.
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