© Romina Amato / Red Bull Content Pool
Dança
Logistx quase desistiu. Hoje é a melhor B-Girl do mundo
Os altos e baixos da mais jovem campeã do Red Bull BC One
Completar 18 anos é especial na vida de qualquer pessoa. É nessa idade que a lei torna alguém oficialmente adulto e você pode sonhar com coisas como tirar a carteira de motorista. Ou quem sabe vencer o maior campeonato de breaking do mundo?
A americana Logistx é uma das melhores B-Girls do planeta, nova campeã do Red Bull BC One e sonha em se tornar atleta olímpica. Mais do que isso, é uma artista antenada, ativista social e parte de um movimento crescente de pessoas influentes que falam sobre a importância de saúde mental, igualdade, representação e questões sociais mais profundas. Mas o caminho até chegar onde ela chegou não foi nada fácil.
Ela começou a dançar em 2011, quando tinha apenas 9 anos, lá em San Diego, na Califórnia. E bastou assistir a um ensaio em um estúdio de dança pra ser fisgada, primeiro pelos movimentos incríveis que os alunos estavam fazendo, e depois pela professora, uma B-Girl que mostrou a Logistx que era possível prosperar como uma garota em uma cena dominada por homens.
No começo, ela era chamada apenas Logan, seu nome de batismo. Logistx é sua personalidade performática; Logan ou Lo é ela no dia a dia. Gentil e atenciosa e garante que todos à sua volta estejam à vontade e felizes. Quando é hora de batalhar, ela é Logistx, a B-Girl está sempre pronta para vencer.
Logan nem sempre foi atlética. "Eu não tinha coordenação e era muito ruim em todos os esportes", conta. Mas ela gostava de cantar e cresceu ouvindo hip-hop, então seus pais, de surpresa, a levaram pra uma aula de dança hip-hop pra crianças.
Logan não queria fazer a aula, mas ficou lá no cantinho assistindo a tudo, tentando não ser vista, enquanto o professor ensinava alguns passos simples. "Sabe quando você faz algo e se sente envergonhada, mas está se divertindo muito? Foi tipo andar de montanha-russa: é assustador, mas quando termina você já quer ir de novo”, diz.
Uma atleta precisa ser focada, uma artista precisa ser livre. Quando você é artista e atleta, precisa ser as duas coisas.
Ela começou a frequentar aulas de hip-hop semanalmente. No caminho pras aulas, Logan passava por outro estúdio e sempre se impressionava com uma aula em que uma professora fazia movimentos que ela nem sabia que mulheres eram capazes de fazer. Não muito depois disso, ela foi para sua primeira aula de breaking. A sensação de montanha-russa era ainda mais intensa ali e ela nunca mais abandonou o estilo.
A paixão foi tanta que não demorou para os pais de Logan transformarem seu quarto em um pequeno estúdio de dança, com paredes roxas e espelhos. Foi nessa época que ela começou a ter aulas particulares de breaking com a B-Girl Valerie "Val Pal" Acosta e seus talentos começaram a florescer. Aos 10 anos, Logan se juntou à crew de Val, a Underground Flow. "Ela era de longe o membro mais jovem, mas eu podia falar com ela como uma adulta”, lembra Val.
Neste ponto da vida, a carreira de Logan começou a deslanchar de verdade. B-Girls jovens como ela ainda eram raras, então Lo geralmente enfrentava meninos e homens mais velhos e maiores do que ela. Era intimidante e Logan sempre ficava nervosa antes das batalhas. “Honestamente, esse sentimento nunca foi embora”, diz ela. Nos dias que antecediam uma jam, ela ficava apavorada e muitas vezes chorava. Agora ela sabe que isso era sua ansiedade aparecendo, mas na época tudo que ela fazia era escondê-la.
"Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo", conta Val. "Minha preocupação pessoal era pensar quando ela poderia ser apenas uma criança, já que sua agenda estava completamente lotada o tempo todo com aulas e treinamento.” Val e seu namorado, Villn, tentavam lembrar Logan que não havia problema em fazer uma pausa às vezes. “Ela realmente não entendia”, diz Val.
Mas o treino parecia estar valendo a pena, pelo menos para quem olhava de fora. Graças ao trabalho coreográfico, Logan havia desenvolvido um estilo único e dinâmico de top rock e estava vencendo batalhas consecutivas. "Nesses eventos eu era a Logistx e estava basicamente atuando", conta a B-Girl. Quando perguntavam se ela estava bem, ela dizia que sim, mas quando ia pra casa, se sentia vazia e solitária.
Aos 15 anos, Logan tentou suicídio. Quando não deu certo, ela ficou aliviada e contou tudo pro pai. Foi um alerta pros dois. Na semana seguinte, ela foi batalhar no Silverback, evento para o qual ela vinha treinando muito - até demais, ela agora admite. E o único objetivo, como foi decidido junto com o pai, seria se divertir. Quando chegou lá, ela estava relaxada. Modo Logistx ligado. Ela sabia o que fazer.
Mas se a vitória em Silverback trouxe novas oportunidades, também trouxe mais atenção e pressão. A máscara de Logistx começou a escorregar. “Eu viajava, vencia e espalhava o bem, mas a portas fechadas a vida não estava como eu esperava”, diz Logan. Isso afetou seu desempenho e, em novembro de 2019, Logistx foi para as finais do Red Bull BC One em Mumbai para ser eliminada na primeira rodada.
Chegou a um ponto que as dificuldades de Logan se tornaram tão opressoras que ela começou a dominar a Logistx.
No início de 2020, Logan estava pronta para desistir do breaking. Mas com a pandemia, ela precisou desacelerar e se mudou para a Flórida para morar com a mãe pela primeira vez em seis anos. Na ausência de competições e viagens constantes, começou a se curar. Ela começou a fazer terapia, meditou mais e, nesse novo ambiente, sentia que tinha mais controle sobre sua própria vida.
Ela começou a compartilhar suas dificuldades e a falar sobre saúde mental nas redes sociais, onde encontrou forças ao ver que não estava sozinha. Por meio de comentários e DMs, Logan conversou com outras pessoas que também passaram por traumas, depressão e ansiedade. Por ser mais honesta e vulnerável, ela se sentia mais autêntica e mais em paz com Logistx.
Desde então, ela aprimorou suas habilidades técnicas sem nunca descuidar de sua criatividade, espírito e mente. Durante a maior parte de sua vida, Logan sentiu que tinha que fazer tudo, agora. Se ela não continuasse evoluindo, logo se tornaria irrelevante. Agora ela percebe que tem tempo e se sente pronta para trabalhar rumo às Olimpíadas nos próximos anos, confiando que depois disso será capaz de fazer as outras coisas que espera fazer. "Eu penso que me desenvolvi como uma pequena árvore. Há muitas folhas e galhos que ainda posso cultivar”, afirma.
+ Veja a Final Mundial do Red Bull BC One 2021, com transmissão em português de B-Boy Endrigo, B-Girl Miwa e MC Aline Constantino.
Red Bull BC One 2021
Assista aos melhores breakers do mundo se enfrentando na Final Mundial do Red Bull BC One 2021 em Gdansk, na Polônia.
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