Phil Wizard na Cidade do Cabo, África do Sul
© Tyrone Bradley / Red Bull Content Pool
Breaking

Como Phil Wizard virou um gigante do breaking

Campeão pan-americano, canadense começou aos 13 anos. Hoje é um dos melhores do mundo
Escrito por Emmanuel Adelekun, com adaptação de Evandro Pimentel
6 min de leituraUpdated on
Philip Kim era um adolescente de 13 anos quando viu uma apresentação de breaking numa rua do centro de Vancouver, no sul do Canadá. Hipnotizado, foi correndo pra casa e pesquisou "breaking" no YouTube. O primeiro vídeo que apareceu foi a última batalha da Final Mundial do Red Bull BC One 2009, entre Lilou e Cloud. Kim ficou tão impressionado com o que viu que começou ali mesmo seu caminho pra se tornar um B-Boy. Hoje ele é um dos melhores do planeta, conhecido como Phil Wizard.
Já se passou mais de uma década desde aquele momento em Vancouver, e Phil Wizard já tem status de lenda na cena mundial de breaking. Foi duas vezes vice-campeão do Red Bull BC One e conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos 2023, em Santiago, título que lhe deu uma vaga nos Jogos Olímpicos.
Place le la Concorde

Phil Wizard em Paris

© Little Shao / Red Bull Content Pool

Mas se 2023 foi o ano que Phil Wizard marcou definitivamente seu nome na história do breaking, o canadense relembra que a jornada pra construir uma carreira como breaker profissional foi marcada por altos e baixos.

Construindo um novo caminho

Quando Phil terminou o ensino médio, ele foi pra a universidade estudar psicologia. A empreitada durou só dois semestres: “Eu sempre passava raspando, só estava lá porque meus pais queriam”, lembra. “Mas naquela época, eu estava começando a viajar por causa do breaking e comecei a receber convites”, continua. Percebendo que a faculdade não fazia mais sentido, ele abandonou o curso pra colocar todo o seu tempo e energia na dança.
Phil Wizard na Califórnia

Phil Wizard na Califórnia

© Maria Jose Govea / Red Bull Content Pool

Competindo e fazendo shows de dança pra ajudar a pagar o aluguel enquanto morava com os pais, Phil queria um trabalho mais consistente como B-Boy pra que pudesse viver sozinho. Só que daí a pandemia chegou, tudo começou a fechar, e Phil precisou recorrer à internet pra dar aula e tentar ganhar uma renda extra.
“Eu tenho um Patreon [site americano de financiamento coletivo], administro programas de coaching de mentoria e ensino através do Zoom, ajudando pessoas de todo o mundo a desenvolver suas habilidades", explica ele.
Com o trabalho online e alguns bicos e competições de dança, Phil finalmente conseguiu sua própria casa, mas admite que viver como breaker em tempo integral ainda não estava fácil: “É sempre aquela luta: tem meses que mal dá pra pagar o aluguel e outros com mais grana, então só preciso garantir que haja um equilíbrio entre economizar e ser cuidadoso ao gastar dinheiro.” Mas mesmo com as incertezas, Phil abraçou tudo que veio com a jornada. “Pra mim, é divertido descobrir o lado dos negócios e como ganhar a vida fazendo o que amo", diz.
Phil Wizard no Red Bull BC One em Johanesburgo 2024

Phil Wizard no Red Bull BC One em Johanesburgo 2024

© Tyrone Bradley / Red Bull Content Pool

Um mar de dúvidas

Mesmo sendo um B-Boy com energia invejável e uma coleção de títulos conquistados ao vencer os melhores da cena, houve muitos dias em que Phil questionou se era bom o suficiente. “Durante os primeiros 11 anos, duvidei diariamente se poderia dançar em tempo integral”, conta. “Fui bom o suficiente? Vou conseguir ser grande? Alguns dias me sentia no topo do mundo, outros pensava 'não sei por que estou fazendo isso, deveria ter ido pra escola e conseguido um emprego regular'.”
Mas, como dá pra ver, Phil sempre confiou na jornada, e essa maneira de pensar o ajudou a enxergar dúvidas como oportunidades de aprendizado. “É importante ser capaz de sair desses estados mentais e superá-los pra desenvolver algo legal”, diz. "É yin e yang. Você precisa dos baixos para chegar aos altos e precisa dos altos pra, quando estiver nos baixos, saber que existe algo do outro lado."
B-Boy Phil Wizard

B-Boy Phil Wizard

© Little Shao / Red Bull Content Pool

Durante os primeiros 11 anos, duvidei diariamente se poderia dançar em tempo integral.
Phil Wizard

Uma jornada solitária

Phil também enfrentou o obstáculo de estar um pouco sozinho na construção de sua carreira. "Não há ninguém com quem eu treine sempre que seja tão motivado no ofício quanto eu", revela. "Eu amo meus amigos, mas entendo que as pessoas têm empregos, famílias e outras responsabilidades, enquanto meu único foco agora é o breaking."
A motivação de Phil vem de sempre se lembrar que, “por mais brega que pareça, a diversão é fundamental. Danço porque adoro, então faço o que posso pra manter o breaking divertido todos os dias". Para Phil, isso significa "encontrar aquelas pequenas coisas que me ajudam a me manter no caminho certo", como ficar longe do telefone no treino ou ver quanto ele ainda pode se esforçar antes de fazer uma pausa. “Não sigo um caminho estruturado e acho que é isso que funciona pra mim, pois faço o que é divertido no momento", conta.

Quando o círculo se completa

De ser inspirado pra dançar assistindo à edição 2009 da Final Mundial do Red Bull BC One no YouTube até chegar na batalha final da edição de 2023 do torneio poucos dias antes de vencer os Jogos Pan-Americanos Santiago 2023 – Hong 10 acabou levando o título, reveja o confronto no player abaixo –, o caminho de Phil Wizard foi longo.
Com títulos mundiais e muitas vitórias no currículo, ele acredita que todas as suas conquistas se resumem a simplesmente ser consistente. “Há pessoas com quem cresci que eram muito melhores do que eu quando comecei, mas tenho sido o mais consistente e acho que o mais apaixonado”, conta.
Toda essa motivação e amor pelo breaking também fizeram com que Phil se tornasse o mais novo membro do Red Bull BC One All Stars. No entanto, apesar de ser reconhecido como um dos melhores breakers do mundo, ele permanece firme e continua a impulsionar e desenvolver seu ofício. “Faço isso porque adoro criar e dançar todos os dias, e acho que esse é o tipo de abordagem que você precisa ter", diz.
Phil ecoa essas palavras em seu conselho para aqueles que também esperam fazer carreira como B-Boy ou B-Girl em tempo integral. Ele diz: “Você tem que dançar porque ama. Você tem que dançar porque gosta de aproveitar a jornada. Isso não significa que todos os dias você será feliz. Mais uma vez, tenho altos e baixos diariamente, mas sei que no final tudo vale a pena", finaliza.
Baixe o app da Red Bull TV e veja filmes e séries: é só clicar e assistir!