Não faz muito tempo, a África do Sul vivia sob o regime do Apartheid, que oficializou a segregação racial no país de 1948 a 1994. Foi em resposta ao regime racista que surgiu por lá, nas décadas de 1950 e 1960, uma forte expressão artística, a pantsula, dança que tem como marca o trabalho rítmico com os pés e, tantos anos depois, está ganhando o mundo.
A palavra "pantsula" vem do zulu e significa "gingar como um pato". Isso porque a dança acontece praticamente no chão, sem muitos movimentos aéreos. O estilo apresenta traços de jive, gumboot, dança africana tribal e gestos cotidianos, como rolagem de dados, mas suas primeiras influências vieram do sapateado.
Para o fotógrafo sul-africano Chris Saunders, um dos grandes responsáveis por registrar a pantsula, a conexão com a dança norte-americana é mais uma evidência da segregação racial ao longo da história. "Quando soube dessa conexão da pantsula com o sapateado, foi quando percebi que nossa arte nunca pode existir por si só", diz.
Foi graças aos seus fascinantes e energéticos movimentos, que fazem o chão tremer, e à sua popularização na África do Sul, que a pantsula ganhou o mundo, principalmente na era pós-1994, com o fim do apartheid e a abertura do país ao resto do planeta.
A herança do período segregacionista é tão recente que os dançarinos continuam impressionando o mundo todo não só pelas variações cada vez maiores de estilo, mas também pela forma com que usam a pantsula para tentar espalhar mensagens positivas, servindo inclusive como fonte de inspiração para artistas famosos. Em 2018, o rapper Kendrick Lamar referenciou a dança no clipe da música "All The Stars", parceria sua com a cantora SZA, com direito aos tênis Converse, chapéus e roupas largas que historicamente servem de uniforme para os dançarinos.
Não é por acaso que a música do artista californiano combina tanto com os passos da pantsula. Originalmente, os dançarinos do estilo não tinham acesso a música gravada. À medida que os rádios tornaram-se mais disponíveis, eles foram deixando de lado a música ao vivo e optaram pela música pop internacional, principalmente norte-americana, de astros como Michael Jackson, MC Hammer e Puff Daddy. No entanto, na década de 1990, um tipo específico de música para pantsula surgiu, o kwaito, uma mistura de seSotho, isiZulu, inglês e africâner.
"O que diferencia a pantsula dos demais estilos de dança de rua é a música e o tempo de execução dos passos", explica o capoeirista, dançarino e coreógrafo Adryano Batista, que há anos se dedica a estudar e pesquisar coreografias de ritmos africanos modernos e tradicionais. "Como toda dança de rua, para começar a dançar pantsula é preciso ter vontade de estudar, de pesquisar", afirma.
Adryano desenvolveu uma metodologia de ensino inédita, unindo estilos de danças urbanas à sua pesquisa corporal e didática, e dá uma dica preciosa para iniciantes: "Um movimento básico para quem está começando é o para-para", demonstrado pelo próprio professor no GIF abaixo. "Com foco e força de vontade, o próximo passo é procurar aulas, sejam elas online ou em workshops."
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