Luedji Luna é cantora, compositora e co-fundadora do Palavra Preta, mostra que reúne compositoras e poetas negras de todo o Brasil. A artista baiana, que recentemente lançou “Um Corpo No Mundo”, o primeiro disco de sua carreira, mostrou que chegou para brilhar e já foi contemplada com o Prêmio Afro 2017. O álbum, produzido por Sebastian Notini, traz diversas inspirações e mistura sonoridades como MPB, jazz, ritmos do congo, samba, reggae e batuque baiano com letras fortes que tratam de temas como pertencimento, imigração e a identidade afrobrasileira.
Acredito que seja a dissolução de diversas sonoridades, pois são canções que mostram uma África estendida e ressignificada. Remete a travessia e o deslocamento.
Além de Luedji na voz, a obra apresenta uma verdadeira mistura de povos. A banda é formada pelo queniano Kato Change (guitarras), o paulista criado na Bahia e filho de congoleses François Muleka (violão), o cubano Aniel Somellian (baixo elétrico e acústico), o baiano Rudson Daniel de Salvador (percussão) e o sueco radicado na Bahia Sebastian Notini (percussão). “Os arranjos foram pensados coletivamente, pois era importante que cada músico se sentisse parte do trabalho e não um simples executor. Essa junção resultou uma realização sem fronteiras e de difícil definição. ‘Um Corpo no Mundo’ é um disco do mundo!”, explica a artista.
Abaixo, Luedji nos contou as histórias por trás de cada faixa do álbum - que se você ainda não ouviu, recomendamos dar o play agora.
É uma canção de minha autoria, composta em 2012, em Salvador. A letra é meu diálogo com uma força que domina os vento e as tempestades. Foi uma música composta num momento de muitos questionamentos pessoais, e eu basicamente busco respostas no vento.
É uma canção também de 2012, fiz a gravação e um clipe dela em Salvador, no mesmo ano. Por conta dessa gravação anterior, essa já era uma canção conhecida e querida pelo público, no disco ela vem com uma roupagem completamente diferente. Dentro Ali é uma canção que fala de espera e esperança na vivência de um amor romântico, é um canção muito bonita, mas que traz também em si, o tema da solidão.
É uma música de autoria minha e do François Muleka, cantor, compositor, e multi-instrumentista paulistano, filho de imigrantes congoleses, quem assina os arranjos de violão do disco. "Eu Sou uma Árvore Bonita" nasce primeiro como uma poesia, e no meio do processo de escolha do repertório o François musicou. É uma canção que usa a árvore como metáfora de força, beleza e opulência na (re)contrução da minha autoestima após uma relação abusiva. A faixa tem participação especial da cantora moçambicana Lenna Bahule.
Canção que nasceu no meu primeiro ano em São Paulo, e que conduziu toda minha carreira, ela foi o fio condutor da história que decidi contar nos show que vim realizando nesses 3 últimos anos, e que se consolida nesse disco. A canção nasceu do meu encontro com a imigração africana na cidade de São Paulo, que acordou minha necessidade de me conectar com minha ancestralidade, ela também é uma questionamento sobre corpo, sobre quais corpos têm respeito, dignidade e amor na cidade.
É uma canção super recente, composta esse ano, e é uma das minhas prediletas. Os arranjos de todas as músicas do disco foram construídos coletivamente, essa música, no entanto, tem muito influência da música cubana, trazida pelo Aniel Somellian, cubano radicado em São Paulo, quem assina os arranjos de contrabaixo acústico e elétrico.
Foi a última música a entrar no repertório, escolhida uma semana antes da gravação. A autoria é de Marissol Mwaba, cantora e compositora irmã do François, que além de co-autor da canção, canta junto comigo no disco essa saudade por Salvador, cidade onde também viveu uns anos.
Essa é uma faixa muito especial do disco, de autoria do meu pai, Orlando Santa Rita e Cal Ribeiro, cantor e compositor baiano, que me viu crescer, e foi, mesmo sem saber, um grande professor de música em minha trajetória. Saudação Malungo é um música de levante, e traz como principal referência a Revolução Haitiana, do século XVIII, que levou à eliminação da escravidão e à independência do Haiti, tornando-o a primeira república governada por pessoas de ascendência africana, uma história muito pouco contada. A história do negro na diáspora, não é apenas a escravidão!
Cabô é o choro de uma mãe preta que perde seu filho pra violência policial. Eu fiz essa canção depois do ocorrido na comunidade Costa Barros, no Rio de Janeiro, em 2015, onde 5 jovens negros foram assassinados com 111 tiros.
Na Beira foi uma canção composta em São Paulo, e é um faixa que fala sobre os desafios de se viver de arte, de viver sempre tendo que se equilibrar, de viver sempre na beira, foi feito num momento de dificuldade comum à quem se aventura nessa vida doida de meu Deus que eu amo, rs!
Autoria minha e de Emillie Lapa, cantora, atriz e compositora baiana. Essa música é baseada numa história verídica, que foi a nossa procura por um pai de santo na cidade de Salvador, as folhas citadas foram as indicados pelo sacerdote. É uma canção muito querida por mim e pelo público, e é a faixa dançante do disco.
A canção e a poesia, ambas de autoria da cantora, compositora, e poeta brasiliense, Taitiana Nascimento, são dois presentes para esse álbum. Now Frágil encerra o disco trazendo debates que julgo importante fazer, pautando o encarceramento, o genocídio a lesbofobia, de modo bem forte e categórico, a gente buscou leveza no arranjo, e no modo como recitei, em contraposição ao discurso. A faixa conta com a participação especial de Thiago França do Metá Metá.
No dia 25 de novembro, Luedji Luna estará presente no em Salvador no evento organizado pelas meninas do Circuito Rolezinho, participantes do Red Bull Amaphiko 2017. O evento fará através de shows e palestras uma imersão de narrativas pensando em futuros possíveis a partir do autocuidado. Mais informações aqui.