Uma das etapas mais importantes do processo de pré-produção de um filme é o casting. Encontrar o ator ou a atriz que melhor se encaixa no perfil de um personagem é um fator primordial no sucesso de um longa-metragem — assim como uma escolha ruim pode transformar o filme em uma verdadeira bomba. Em função disso, é natural que diretores e produtores cheguem ao ponto de realizar audições com centenas de artistas em busca daquele que possa oferecer a melhor performance em determinado projeto.
Muitas vezes, essa troca de figurinhas sobre quem pode vir a ser escalado para determinado papel se dá apenas entre as quatro paredes de escritórios de Hollywood. Em outras vezes, o processo de casting é exposto ao público, o que rende aos cinéfilos uma série de cenários hipotéticos. E se o seu filme favorito tivesse um protagonista totalmente diferente?
Conheça cinco filmes que quase foram protagonizados por outros atores.
Matrix (1999)
É difícil pensar na trilogia Matrix sem pensar no estilo frio de atuação de Keanu Reeves no papel de Neo. Clássico absoluto da filmografia das irmãs Wachowski e um dos filmes de ação mais revolucionários de todos os tempos, o longa-metragem distópico lançado às vésperas da virada quase não contou com Reeves como protagonista.
Will Smith, que na época de 1990 se destacava com seus trabalhos nas séries Um Maluco no Pedaço e em filmes como Bad Boys (1995) e Independence Day (1996), era a primeira opção das Wachowski para viver o personagem que começa como um introspectivo homem comum com habilidades de hacker que se torna o messias da humanidade. Smith, entretanto, recusou a proposta para atuar em no faroeste steampunk As Loucas Aventuras de James West (1999).
Com uma arrecadação pífia e o desprezo da crítica especializada, o filme foi o maior arrependimento da carreira de Smith. O ator afirmou que achava que o projeto seria um sucesso comercial e por isso tomou a decisão de atuar e As Loucas Aventuras de James West (1999). "Eu tinha tanto sucesso que comecei a saborear um sucesso mundial e meu foco mudou da arte para a vitória [comercial]. Eu me vi promovendo algo porque eu queria ganhar alguma coisa, não porque eu acreditava naquilo", assumiu o ator em 2016. Uma década antes, o astro de Eu Sou a Lenda (2007) já havia dito que “não era um ator maduro o suficiente” para o papel e que “poderia ter estragado tudo” caso aceitasse viver Neo nos cinemas.
Além de Smith, Nicolas Cage, Brad Pitt e Val Kilmer também receberam propostas para o papel e recusaram.
O Iluminado (1980)
“Here’s Johnny!” é uma das linhas mais famosas do cinemas de terror em todos os tempos e poderia ter sido dita por uma das vozes mais icônicas que Hollywood já ouviu. O ator Robin Williams tinha a comédia com especialidade, mas também já teve importantes atuações em filmes de drama e suspense e era a primeira opção do cineasta Stanley Kubrick para o papel de Jack Torrance. No clássico filme de terror, o personagem é um pai de família comum que vai à loucura quando se torna zelador do mal-assombrado Overlook Hotel.
Williams ainda não era a grande estrela que se tornou nas décadas seguintes, mas chamou a atenção de Kubrick por sua atuação como um alienígena na série de TV Mork e Mindy (1978 - 1982). O cineasta considerou, através do trabalho do ator na atração, que o comediante poderia representar bem o lado psicótico que Torrance desenvolve no longa-metragem. O diretor chegou a achar que Robert De Niro poderia viver o personagem, mas ponderou que a performance do ator em Taxi Driver (1976) não foi insana o suficiente.
De qualquer forma, o escritor Stephen King, que viria a ter uma série de problemas com Kubrick por causa desta adaptação, desaprovou a hipótese de Williams, De Niro e Harrison Ford (também cotado) viverem o protagonista, o que abriu a chance para que Jack Nicholson se eternizasse no papel. No mesmo ano em que O Iluminado estreou nos cinemas, Williams estrelou a comédia musical Popeye (1980).
Ao longo de sua carreira, Williams também esteve relacionado a papéis como o de Rubeus Hagrid, na franquia Harry Potter; de Willy Wonka, no remake de A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e de vilões como Coringa e Charada em diferentes filmes do Batman.
O Exterminador do Futuro (1984)
Ah, a ironia! O.J. Simpson foi cogitado para o papel de T-800, o androide cibernético que viaja no tempo para matar Sarah Connor, mas o diretor James Cameron considerou que o ator não convenceria como um assassino. “As pessoas não acreditariam que um cara legal como O.J. poderia interpretar um matador implacável”, o cineasta chegou a afirmar. O papel ficou com Arnold Schwarzenegger, que tornou o personagem icônico, depois de nomes como Sylvester Stallone e Mel Gibson recusarem propostas para viver o personagem.
É difícil imaginar outro ator além de Schwarzenegger como o Exterminador e se hoje os dois primeiros filmes da franquia são vistos como clássicos da ficção científica, certamente haveria uma reavaliação da cinessérie caso O. J. tivesse sido escalado para o papel principal.
Em 1995, o ex-atleta e ator foi inocentado em um controverso julgamento-espetáculo assistido por 20 milhões de pessoas pela televisão, após ser acusado de matar sua ex-esposa e um amigo dela. Nos anos seguintes, o ator “confessou hipoteticamente”, com uma riqueza de detalhes, ter cometido os crimes.
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001)
A trilogia O Senhor dos Anéis, iniciada em 2001 com A Sociedade do Anel, foi responsável por apresentar o trabalho do Ian McKellen para uma nova geração de fãs (junto com os filmes da franquia X-Men). Entretanto, o icônico mago criado por J.R.R. Tolkien quase se juntou à lista de personagens lendários de Sean Connery, intérprete de James Bond em sete filmes.
Connery recebeu uma proposta quase irrecusável em termos financeiros quando Peter Jackson o escolheu para viver Gandalf. O ator britânico iria receber um salário base de US$ 10 milhões mais 15% da bilheteria conjunta dos três primeiros filmes (que totalizaram uma arrecadação de quase US$ 3 bilhões nos cinemas de todo o mundo). Entretanto, Connery, hoje aposentado, afirmou que não saberia como ele poderia integrar a cinessérie. “Eu não entendi o roteiro. Eu nunca entendi. Eu li o livro. Eu li o roteiro. Eu vi o filme. E eu ainda não entendo. Ian McKellen, eu creio, está maravilhoso no filme”, comentou o ator, que deixou de faturar cerca de US$ 450 milhões pela decisão.
Christopher Lee, que interpretou o mago Saruman, foi um dos atores que Jackson também considerou para o papel de Gandalf. Lee chegou a se irritar por ter perdido a vaga para McKellen e o diretor já afirmou que o clima no set era “agridoce” quando Lee e McKellen contracenaram. Outros nomes cogitado para a vaga foram Tim Curry, Jeremy Irons e Malcolm McDowell.
Star Wars (1977)
Al Pacino quase ostentou o caçador de recompensas mais famoso de uma tão, tão galáxia distante na lista de personagens icônicos de sua filmografia. O intérprete de Michael Corleone na trilogia O Poderoso Chefão, esteve perto de atuar no primeiro Guerra nas Estrelas (também chamado de Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança), mas, assim como Connery, teve problemas para entender o que teria de fazer no filme. "O papel seria meu, mas eu não entendi o roteiro", contou o ator durante um bate papo com fãs e imprensa em 2013.
George Lucas, criador da longeva franquia, inicialmente planejou que Han Solo seria um monstro verde gigante. Depois o diretor e roteirista projetou que o personagem seria negro e chegou a testar Billy Dee Williams (que ficaria posteriormente com o papel de Lando Calrissian) para a vaga.
Quando definiu que Han Solo seria branco, nomes como Kurt Russell, Nick Nolte, Christopher Walken, Jack Nicholson, Al Pacino, Chevy Chase, Steve Martin, Bill Murray, Robert Englund, Sylvester Stallone, John Travolta, James Woods e Perry King foram considerados até que o cineasta se convencesse que Harrison Ford seria perfeito para o papel.