Música
Damian Kulash e a co-diretora Trish Sie nos contaram como foi fazer "Upside Down & Inside Out"
Desde "Here It Goes Again", os vídeos do Ok Go são sempre muito aguardados por sua combinação única de criatividade e inovação. Seu novo vídeo, "Upside Down & Inside Out” , não é exceção. Desta vez, porém , eles foram maiores e, possivelmente, mais loucos do que nunca, criando o primeiro vídeo filmado inteiramente em gravidade zero. O clipe ficou completamente alucinante, como é o OK Go, eles não dependeram de fios ou telas verdes para fazê-lo acontecer.
Damian Kulash, vocalista da banda, dirigiu o vídeo com Trish Sie, que já havia trabalhado com o grupo outras vezes, incluindo a vez que coreografou a dança da esteira no vídeo vencedor do Grammy "Here It Goes Again". Aqui, Kulash e Sie nos levam para os bastidores do novo vídeo e contam a história de sua colaboração criativa. Não se surpreenda ao ver um terminando a frase do outro - eles também são irmãos.
RedBull.com: Este vídeo é, provavelmente, o seu mais ambicioso em termos produção, como rolou isso?
Trish Sie: Damian e eu fomos para Cape Canaveral (na Flórida) e voamos na versão "Vomit Comet" da NASA em novembro de 2012. Nós estávamos animados para ter uma experiência de gravidade zero, é claro, mas também queríamos ver se havia possibilidade de fazer um vídeo musical lá. Nós saímos muito chateados com as possibilidades, para ser honesto. Parecia tão promissor, e ainda assim tão impossível no momento.
Damian Kulash: Este vídeo em particular é algo que eu queria fazer há muito tempo e, quando o Space X e a Virgin Galactic começaram a chegar ao conhecimento público em torno de 2007, 2008, eu lembro de pensar: "Oh meu Deus, as pessoas vão estar fazendo arte no espaço muito em breve e eu quero fazer isso!" Então eu me encontrei com pessoas da S7 (companhia aérea russa) em um evento de mídia do Lions Festival de Cannes, na França, e é aí que começou a aventura.
Sie: Quando Damian me disse que a companhia aérea russa estava super séria sobre o financiamento de nosso vídeo, eu pensei que eu tava tendo alucinações. Na verdade, até a gente estar a caminho de Moscou - e talvez até muito depois disso! - Eu ainda não conseguia colocar na minha cabeça o fato de que estávamos realmente indo fazer isso.
Tinha mais ou menos 25-30 pessoas dentro do avião e durante os 20 vôos que fizemos, a pessoas vomitaram umas 58 vezes
Então esse era um sonho que vocês dois dividiam?
Kulash: Definitivamente, especialmente porque parecia tão improvável, em termos de logística. Visto sob a perspectiva dos nossos outros vídeos, todos aqueles têm levado semanas ou meses de instalação e ensaio - o que não era uma opção aqui. Para ter 3 minutos e meio de gravidade zero precisaríamos de algum tempo para praticar lá em cima. Uma vez que a companhia aérea aceitou e conseguimos tempo de vôo suficiente, eu trabalhei com uma agência para fazer a logística e ficou claro que a gente ia conseguir. Em seguida, Trish e eu começamos a pensar sobre o que poderíamos realmente fazer. Então, nós fomos lá por uma semana e começou a tocar música e testar.
Qual foi a parte mais complicada de criar isso?
Sie: Queríamos este vídeo com uma coreografia completa ao invés de uma montagem de cenas impressionantes que podem ser feitas em gravidade zero. Esse foi o primeiro grande obstáculo.
Kulash: Porque não queríamos fazer um monte de cenas legais e editá-las junto mais tarde. É muito não o nosso estilo, tipo cadê o desafio? Preferimos nos divertir ao gravar ao invés de construir algo que ficaremos orgulhosos.
E como vocês conseguiram fazer o que queriam?
Sie: Primeiro, nós dividimos a música em pedaços que poderiam se encaixar em um único período de ausência de peso, mas queríamos que a forma da dança enfatizasse a estrutura da canção, e não ir ao contrário.
Kulash: Nós inventamos um sistema para fazer uma única tomada ao longo de oito parábolas (esse é nome dado a manobras chamadas que são realizadas pelos aviões de laboratórios de microgravidade). Em cada voo você tem 15 parábolas e em cada parábola você tem 20 segundos de dupla gravidade, aí 50 segundos de gravidade zero e alguns minutos de tudo isso repetindo. Então, para tornar tudo uma única tomada, juntamos oito partes em uma só por 40-45 minutos.
Sie: Nós também deixamos nossa reprodução da música um pouco mais lenta (28,5 por cento, para ser exata) e fizemos cada parte da coreografica um pouco mais lenta. Dessa forma, os 21 segundos de música enquadram perfeitamente nos 27 segundos de falta de gravidade. Os pilotos - tinha 10 deles pilotando o avião ao mesmo tempo por sinal - terminam a parábola quando o avião tem uma velocidade baixa o suficiente e dinâmica, a fim de "colher" ele mesmo pra baixo da aceleração. É uma equação matemática complexa que não é fácil de entender, acredite. E toda essa aventura no final já parecia que a gente ia morrer. Sendo assim, mudar o tempo das parábolas não era muito uma opção.
Quando o Space X e a Virgin Galactic começaram a chegar ao conhecimento público em torno de 2007, 2008, eu lembro de pensar: "Oh meu Deus, as pessoas vão estar fazendo arte no espaço muito em breve e eu quero fazer isso!
Isso soa um rolê bem intenso, alguém teve enjoo com os movimentos?
Kulash: Dava muito enjoo, todo mundo da banda se entupiu de remédio pro estômago então nenhum de nós realmente vomitou. Mas claro que, tinha mais ou menos 25-30 pessoas dentro do avião e durante os 20 vôos que fizemos, a pessoas vomitaram umas 58 vezes. Foi uma média de dois a três vômitos por vôo .
Sobre a música, ela foi escrita especialmente para esse vídeo ou você instintivamente sabia qual funcionaria uma vez isso se tornou possível?
Kulash: Nós nunca escrevemos nossas músicas pensando em uma idéia de vídeo pra elas. O negócio é que escrevemos canções sobre o que nos emociona e para nós isso se alinha visualmente muitas vezes. Era muito improvável que algum dia iríamos fazer esse vídeo, então quando a oportunidade surgiu foi incrível porque tínhamos uma música com tudo a ver, que literalmente falava sobre a subjetividade e o mistério da gravidade. Foi perfeito.
Eu adoraria fazer um vídeo no espaço! Não é segredo nenhum, inclusive se você conhecer alguém que tenha uma nave espacial e queira nos emprestar me dá um grito.
Você e Trish também são irmãos, quanto tempo vocês tem trabalhado juntos?
Kulash: Praticamente desde que eu nasci. Nós fazíamos coreografias pra pegar carona de manhã.
Sie: Sim! O K.A.S. ... Kulash Alarm System. Nós meticulosamente criamos essa coreografia meio Kraftwerk, robótica insana na escada fora da nossa casa. Nós sincronizamos ela perfeitamente para que pudéssemos começar assim que víssemos o carro da Sra. Ferguson subindo o morro pra nos pegar. E acabava com a gente se apresentando na porta do carro quando ela encostava no meio fio. E estranhamente, ela nunca comentou nada sobre isso. Nós apenas entrávamos no carro e íamos pra a escola.
Oh wow! Então vocês começaram cedo. Quando é que se tornou mais uma coisa séria então?
Kulash: Dez anos atrás, quando a banda começou a fazer os próprios vídeos. Foi uma emoção total envolver minha irmã. Ao longo dos últimos 10 anos fizemos cerca de 15 vídeos. Trish colaborou em quatro deles e um deles dirigiu inteiramente sozinha. É muito divertido e, em colaborações criativas, dá pra ser duper honesto quando é alguém da família. Nós terminamos as frases um do outro e sabemos como o outro pensa.
O K.A.S. ... Kulash Alarm System. Nós meticulosamente criamos essa coreografia meio Kraftwerk, robótica insana na escada fora da nossa casa.
Sie: Lá por volta de 2004 ou 2005, eu coreografei o vídeo “A Million Ways” do OK Go pra eles repetirem a dança nos shows ao vivo. Eu acho que foi a primeira vez que "trabalhamos" junto oficialmente, mas era mais como eu fazer algo divertido com caras que eu conhecia toda a minha vida. Tim, Andy, Duncan, Damian e eu todos fomos para o acampamento musical juntos quando crianças e muitas vezes colaboramos espontaneamente em diversos projetos estranhos. Aquilo foi tipo um desses projetos. Já o vídeo da esteira foi um pouco mais uma "coisa de trabalho", mas mesmo assim me senti como um daqueles tipo de coisa, "Ei! Eu tenho uma idéia! Quer vir?". Talvez seja por isso que temos uma relação de trabalho tão especial - eu nunca realmente me sinto trabalhando. É simplesmente o que a gente sempre fez.
E quando vai ser o próximo trabalho? Vocês querem fazer um vídeo no espaço ou isso é secreto?
Kulash: Eu adoraria fazer um vídeo no espaço! Não é segredo nenhum, inclusive se você conhecer alguém que tenha uma nave espacial e queira nos emprestar me dá um grito.
Sie: Eu não acho que eu queira filmar no espaço! Quero manter meus pés firmemente no chão por um tempo e fazer algo totalmente diferente da próxima vez. Em vez de se concentrar em geometria e matemática e quebra-cabeças técnicos, eu gostaria de contar uma boa história...