Surfar era praticamente tudo na vida de Sam Bloom, que cresceu nas praias ao norte de Sydney, na Austrália. O mar sempre foi o lugar onde era mais feliz. Mas durante férias com a família na Tailândia, em 2013, uma queda de 6 metros de altura de uma varanda que estava mal conservada causou uma grave lesão na medula espinhal e ali a vida de Sam se transformou. Ela tinha apenas 32 anos.
“Algumas pessoas são incríveis e aceitam totalmente sua lesão, mas eu não,” conta Sam. Voltar a enxergar possibilidades, reinventar a vida, a maneira de viver, os gostos e os hábitos. Nesse emaranhado de desafios, onde entraria o surfe, como é que ela poderia pensar em voltar a estar no mar em cima de uma prancha?
A enfermeira superativa e mãe de três filhos ficou paralisada do peito para baixo. Depois de sete meses no hospital, Sam queria ser feliz de novo. Não que fosse uma tarefa fácil. “Nada me machucou tanto quanto quando o médico disse que eu nunca mais voltaria a andar”, diz. “Nunca quis ser uma espectadora, não sou assim. Fiquei muito deprimida no primeiro ano, tudo parecia impossível. Sentia saudade de brincar com os meninos, senti falta de mim mesma.”
A primeira tentativa de levar Sam para surfar, também não foi legal como a família imaginou que seria. “Meu marido, Cam, me levou para nadar e um amigo insistiu pra que ele me empurrasse em uma onda. Eu fui, mas pensei, ‘não, isso não é surfar’. Não quis mais voltar”, lembra.
Sam estava quase pronta pra desistir. Seu nível de confiança, como ela mesma define, era "absolutamente nenhuma". Até que um dos seus filhos um dia levou pra casa uma surpresa improvável: uma filhote de passarinho ferido, que a família chamou de Pinguim.
“Acho que ela realmente me devolveu a confiança”, diz Sam sobre sua nova hóspede. “Antes eu pensava que era a pior mãe, a pior esposa, a pior amiga, a pior tudo. Quando encontramos a Pinguim, percebi que realmente podia cuidar de algo, e não era tão inútil quanto pensava. Ela me deu esperança assim, por mais estranho que seja. A recuperação da Pinguim me deu um propósito”, conta.
Quase cinco anos depois do acidente, uma carta mudou a visão de Sam. “Recebi uma bela carta da Nola Wilson [mãe do surfista Julian Wilson]. Eu não a conhecia, mas ela disse que sabia o quanto o surfe significava para mim, e que eu deveria voltar pra prancha. E foi isso que eu fiz", afirma.
E ela não só voltou para a prancha como conquistou, mais tarde, dois Campeonatos Mundiais, em 2018 e 2020, depois de entrar na equipe australiana de surfe adaptado, competindo na categoria assistência inclinada.
“Cam me leva para o fundo e me empurra na onda. Um amigo fica na beira, pronto para me pegar e me levar para fora novamente. É um pouco irritante as vezes, porque posso meio que remar se estiver flat, mas simplesmente não consigo arquear minhas costas e levantar meu peito o suficiente [para pegar a onda sozinha]”, conta.
“Não gosto muito de tomar ondas na cabeça porque, quando você cai da prancha, tudo o que você tem são os braços”, conta Sam. "Mas hoje surfo ondas até bem grandes durante as competições. Contanto que não seja muito raso, não tenho tanto medo. Há muito apoio, você sabe que alguém estará lá para ajudar se for preciso."
Sam está de olho em um terceiro título mundial, mas sua motiva;áo não são os troféus. “Surfar faz bem para a cabeça”, diz. “Ainda fico um pouco mal humorada porque obviamente não é o mesmo de antes, mas quando o surfe é incrível, quando você está lá fora com os amigos, é como nos velhos tempos. A vibração da competição é a melhor. Obviamente, existem diferentes lesões, mas todos estão tão felizes por estarem na água juntos que me sinta normal”, conclui.
Baixe o app da Red Bull TV e tenha acesso a todos os nossos vídeos! Disponível na App Store e na Play Store.