Deve ser extremamente cansativo ser Daigo Umehara. Entre uma luta exaustiva e outra, o jogador é incessantemente requisitado pelos fãs, que seguem o astro da Fighting Game Community por onde ele passa. O assédio é tanto que, de todas as fotos que tirei durante o Red Bull Kumite, neste último fim de semana, a maioria delas caberia numa pasta intitulada “Daigo dando autógrafos”. Mesmo assim, sua presença impactante nos corredores de arenas, estádios e salas de convenções de hotéis só se compara a sensação de vê-lo brilhando nos ringue dos maiores campeonatos de Street Fighter do mundo.
Fora dos holofotes e streams, Daigo é uma pessoa calma, concentrada e gentil. Ele ri e abraça todo mundo que pede foto, é atencioso com todos os outros jogadores dos torneios em que participa e tenta trocar ideia com qualquer pessoa que se aproxime para pedir conselhos, mesmo sem falar quase nada de qualquer outra língua que não seja japonês.
A essa altura da vida, Daigo é o único bicampeão de Street Fighter no EVO e já levou para casa a maioria dos troféus de campeonatos mundiais, tanto de torneios abertos quando daqueles para qual foi convidado. Membros da comunidade competitiva de Street Fighter, como jogadores e comentaristas, são rápidos em dizer que hoje Daigo está longe do seu melhor, apesar de insistirem em comparar qualquer novo campeão do mundo com o jogador e seu inquestionável legado. “Fulano pode até mandar bem, mas ele consegue bater no Daigo?”, dizem por aí. Ele se tornou um parâmetro para medir a habilidade de qualquer jogador profissional de lutinha.
Nos últimos anos, Daigo prefere gastar seu tempo dando entrevistas e conversando com novos talentos da cena competitiva, dando dicas para qualquer um que pedi-las. E todo mundo que tem juízo pede.
Puxei o jogador para fora da Salle Wagram, em Paris, logo depois da sua segunda luta no Kumite, para conversar e tentar entender a pessoa por trás do mito. Longe da arena, esperava que ele tivesse um pouco de sossego e conseguisse bater um papo calmamente, mas logo percebi que isso seria impossível. Cadernos, controles de arcade, maços de cigarro; as pessoas traziam qualquer coisa para Daigo assinar, não sem pedir uma foto depois. A nossa entrevista era interrompida a cada pergunta por um fã pedindo um pouquinho do tempo dele. Em todas as vezes ele pedia licença para mim, dava atenção para quem quer que fosse, e voltava à entrevista com o mesmo foco e voz rouca de sempre. É realmente um privilégio bater um papo com Daigo Umehara.
Red Bull: Daigo, eu queria que você explicasse a sua fidelidade pelo Ryu todos esses anos. Não só pelo boneco no jogo, mas como personagem na história de Street Fighter mesmo.
Daigo: No começo, lá atrás, quando estava começando a jogar Street Fighter II e ainda era só uma criança, eu usei o Ryu pela primeira vez. Claro, eu usei outros personagens também, mas o Ryu realmente me impressionou. Naquela época, o melhor jogador de Street Fighter jogava de Ryu. Eu pensava grande e então comecei a copiar o que aquele jogador fazia. Além disso, o design do personagem também me atraia. A forma como se joga com o Ryu também se encaixava na forma com que eu gostava de jogar. Então foi um encontro de vontades.
Mesmo quando Ryu deixou de ser um dos personagens mais fortes do jogo, você continuou jogando com ele, justificando que conseguia se expressar através do Ryu. Você pode explicar o que quis dizer com isso?
Ryu é um personagem que consegue fazer de tudo um pouco. Dá para jogar usando magia a longa distância, dá para ser agressivo, dá para ser defensivo. O Ryu não se encaixa em apenas uma só forma de jogar. Pode existir um milhão de jogadores de Ryu, mas todos eles podem jogar de um jeito diferente. É o oposto de um personagem que, por exemplo, é muito bom em knockdown vortex. Só tem um jeito de jogar com esse personagem. Qualquer um pode imitar esse estilo de luta.
Mas com o Ryu, você realmente consegue se expressar porque não há uma limitação ou um jeito certo de jogar com ele. Então, quando as pessoas vêem o meu Ryu, elas sabem que sou eu, Daigo, jogando. Eu gosto desse desafio de conseguir me diferenciar de outros jogadores.
Como jogador, quero continuar jogando esses torneios que têm grande alcance, como o Red Bull Kumite, então quero continuar nesse caminho, viajando o mundo e lutando nesses campeonatos. Mas como figura pública na comunidade de competidores profissionais, eu quero expandir a indústria e o mercado como um todo.
No Japão, uma carreira como jogador profissional ainda não é respeitada, então eu quero que esse mercado seja amplamente reconhecido. No momento, estou me concentrando na indústria japonesa, escrevendo livros e lançando mangás. É isso que quero conquistar agora. Eu sempre serei um jogador profissional, mas ao mesmo tempo, um dos meus maiores objetivos é estabelecer a função de jogadores de videogame profissionais no Japão.
O que é mais importante para você na comunidade de jogos de luta?
Na sociedade japonesa, as crianças aprendem desde pequenas, através dos seus pais e professores, que jogar videogame é uma perda de tempo. Eles falam, “Faça a lição de casa, vá estudar, não jogue muitos games!” Essa cultura japonesa ainda prevalece atualmente e eu quero mudar isso. Quero que as profissões que giram em torno de você jogar videogame sejam aceitas pela sociedade.
Então, o que eu mais gosto dessa comunidade é que aqui você encontra um grupo de pessoas que te apoiam nessa ideia, como meus companheiros de equipe e outros jogadores. Todos nós compartilhamos dessa visão, de transformar a sua habilidade com jogos em um talento para ser celebrado. Eu realmente gosto desse aspecto e do trabalho em equipe para se chegar nesse objetivo, algo que é muito comum na comunidade de jogos de luta.
Como você vê a sua responsabilidade por ser um líder dessa comunidade?
Eu não sinto exatamente uma responsabilidade em ensinar as pessoas a jogar, mas sinto uma grande responsabilidade em criar a vontade de jogar. Tanto para novos quanto para antigos jogadores que pararam de jogar por um tempo – talvez porque eles tenham criado família e estão fazendo outras coisas da vida. Acho importante trazer essas pessoas de volta à cena. Eu gosto de ter essa responsabilidade nos dois lados da comunidade, porque quero vê-la crescendo.
O que fala para um jogador novato que pede dicas para ficar tão bom quanto você?
Em primeiro lugar, você precisa jogar muito. Mas também é importante nunca desistir, porque é muito fácil ficar frustrado. Mesmo quando você morre muito e se sente deprimido, não desistir do jogo já é metade de uma verdadeira conquista. Você precisa continuar e pensar no que precisa mudar no seu jogo. É essencial se perguntar, “Por que eu perdi?”. Autorreflexão é essencial.
Mas se você só quiser ficar bom no jogo, o melhor a se fazer é ir até o YouTube e ver todos os vídeos de dicas e tutoriais que fazem por lá. Não acho que as pessoas precisam que eu as ensine dessa forma. Só o que eu quero é fazer a comunidade crescer.
Não importa. Não tenho exatamente uma opinião sobre o jogo, contanto que consiga unir e fazer todo mundo jogá-lo. Os desenvolvedores precisam encontrar um jeito de aumentar o número de pessoas que jogam Street Fighter, que precisa deixar de ser um jogo de nicho. Então, eu não ligo pro que exatamente eles vão fazer com o design do jogo, contanto que consigam fazer a cena crescer.
Temos uma comunidade pequena porém muito apaixonada no Brasil, e todo mundo também quer fazer essa cena crescer. Você teria algum recado para ajudar essa comunidade a encontrar um jeito de se expandir?
Honestamente, até recentemente eu não sabia que a comunidade brasileira existia. É por conta de jogadores que nem o ChuChu que a comunidade brasileira hoje está no mapa, e estou muito feliz de descobrir que todas essas pessoas existem. Apesar de eu compreender que a cena competitiva no Brasil não seja tão... abençoada com os mesmos recursos que temos no Japão, eu gostaria de encorajar os jogadores brasileiros a se esforçarem para que um dia cresçam como comunidade. Só trabalhando muito vocês vão crescer de verdade.
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