Para algumas pessoas, nadar com tubarões gigantes não só é um passatempo, mas também uma carreira. O fotógrafo subaquático Will Allen é uma dessas pessoas, tendo forjado uma reputação ao andar bem perto de todo o tipo de tubarões, incluindo dos maiores predadores do mar, os tubarões-brancos.
Will começou a seguir por esta estrada quando Emory Kristof, fotógrafo do National Geographic, lhe disse que precisava de fazer com que as suas fotos sobressaíssem. Allen seguiu o conselho e acabou a trabalhar em documentários como Revolution e Sharkwater Extinction com o fotógrafo e cineasta Rob Stewart, que faleceu num acidente de mergulho durante a gravação deste último.
Naturalmente, se entras nas águas de um tubarão-branco sem uma jaula então estás a pôr-te em risco, mas se seguires estas dicas talvez sobrevivas para contar a história.
1. Nunca te esqueças de que estás no território deles
“Nós, como profissionais de mergulho com tubarões, estamos sempre cientes daquilo que nos envolve”, refere Will. “Sabemos que estamos no ambiente deles, não no da humanidade. Por isso, se estás no oceano e um tubarão se aproxima de ti não deves ficar surpreendido. Eles vivem aí.”
“A principal coisa a ter em conta é que eles não estão interessados em nós. Eles são curiosos, mas a última coisa que um tubarão branco quer é magoar-se, tal como qualquer outra criatura viva. Eles têm de recuperar sozinhos, sem assistência de médicos ou medicação. Parecem criaturas gigantes e assustadoras por culpa da maneira como nós, humanos, os retratamos. Ao fim e ao cabo, são só um peixe grande. Um peixe muito grande e tramado, sem dúvida, mas também são vulneráveis e têm zero interesse em pôr-se em perigo.”
2. Permanece num estado zen em todos os momentos
“Só me foco naquilo que estou a fazer”, diz Will sobre a sua mentalidade dentro de água. “Não penso em nada mais da minha vida ou do mundo. Foco-me na água e nos tubarões. Sou assim mesmo antes de qualquer mergulho, na verdade. Para mim, há poucos sítios onde quisesse estar para além do oceano, a nadar com tubarões e com outra vida marinha. A única coisa que fez do oceano um lugar melhor foi ter a minha noiva a juntar-se a mim nos mergulhos. Nadar com tubarões deixa-me hiperalerta e recorda-me do quão insignificantes somos.
Will diz ainda que, “de certa forma, tudo abranda dentro de água e tudo fica muito focado”. O fotógrafo refere que “tens de prestar atenção em todos os momentos”, mas nota que estar dentro de água é como “meditar”. “Torna-se pacífico. Podes ter um tubarão-branco de mais de 5 metros à tua frente e não sentir medo.”
Tirei algumas fotos e ele aproximou-se ainda mais. Já nem sequer está a nadar por esta altura, só parou à minha frente. Eu pensei ‘estou tão morto’. Estava tão nervoso que comecei a respirar super-rápido e o meu coração disparou.
3. Aprende a ter postura
“Para mim, há dois momentos em mergulhos com tubarões brancos que sobressaem. O primeiro é o momento em que tive de fazer um cara-a-cara com um tubarão a 24 metros de profundidade numa plataforma de filmagem. Um dos grandes estava a circular-me e decidiu parar e ficar a olhar fixamente para mim. Parece que demorou vários minutos, mas tenho a certeza de que foram só alguns segundos. O tubarão não estava a vacilar e eu estava bastante nervoso. Era um dos meus primeiros saltos com tubarões-brancos, por isso a adrenalina estava muito alta e o meu ritmo cardíaco elevado.”
“Eu fiquei a pensar ‘o que faço?’. Tirei algumas fotos e ele aproximou-se ainda mais. Já nem sequer está a nadar por esta altura, só parou à minha frente. Eu pensei ‘estou tão morto’. Nesta altura, estava tão nervoso que comecei a respirar super-rápido e o meu coração disparou. Eu conseguia vê-lo a mudar os seus maneirismos, o que me mostrou que aquela criatura estava com medo de mim.”
“O tubarão continuava a aproximar-se mais e mais, até que ficou a cerca de 1.80m de mim. A boca dele era tão larga quanto a minha secretária! Só pensava naquilo que os meus amigos e biólogos com que trabalhei me tinham dito: ‘mantém a tua posição.’ As presas fogem, por isso, se ficares lá, mantiveres a postura e o contacto visual, vais ficar bem. Claro, isto é mais fácil dito do que quando estás em frente a um tubarão-branco de 4.5m.
“Agarrei-me ao suporte lateral da jaula e fui para fora com a minha câmara em direção ao tubarão, para ficar tão próximo quanto podia. Toquei-lhe com a minha câmara no nariz. Precisei de tudo o que tinha em mim para fazer isto porque estava super assustado, mas revelou-se ser bastante simples. O tubarão ficou ‘Oh, OK, não és aquilo que eu pensava que podias ser, então estou fora’, e nadou lentamente para longe. Foi isso."
“Esse momento mudou muito a minha mentalidade relativamente a tubarões. Sempre tinha tido um respeito saudável por eles e medo, mas aquele episódio tirou-me o medo. Agora é apenas um respeito e uma tentativa de percebê-los o máximo possível.
“O segundo momento mais poderoso com um tubarão-branco aconteceu fora da jaula, mesmo atrás do barco do meu amigo. O Rob Stewart e eu estávamos a tentar tirar umas fotos dos tubarões quando um tubarão branco passou bastante próximo de nós e depois nadou para debaixo de nós. Nesse momento, virou rapidamente e começou a nadar mesmo em nossa direção. Nem eu nem Rob nos mexemos, continuámos a tirar fotos ao tubarão. Aí, ele veio mesmo em direção à cúpula que tinha na parte da frente da minha câmara e deu-lhe um toque. Foi um momento incrível para ambos pois o tubarão não nos pareceu nada assustador, só estava curioso. Conseguimos dois pontos de vista incríveis deste momento.”
4. Lembra-te: nós não os compreendemos bem
“Há muito que nós não sabemos sobre tubarões brancos: onde e exatamente como procriam, quão profundo nadam para o fazer, quão profundo nadam por comida, como socializam e quão importante isso é para eles”, explica o fotógrafo. “Sabemos que são territoriais, como muitos tubarões são, e que o tamanho é importante nessas situações. No entanto, nunca ninguém conseguiu filmar ou presenciar tubarões-brancos a acasalar.”
5. Cuidado com as costas!
“Os tubarões-brancos podem passar de modo silencioso e furtivo para uma besta cheia de energia num instante. É surreal quão rápidos são e como conseguem tirar o corpo todo da água com um pequeno agitar das barbatanas. Os tubarões-brancos são de longe os tubarões mais impressionantes que já vi.
“O que se destaca é o seu poder puro. Diria que os maiores podem ser comparados a um carro pequeno ou médio quando estão a vir na tua direção e vês aquelas barbatanas peitorais de cada lado, como se fossem asas gigantes. É difícil permanecer calmo quando estão a vir na tua direção, mas não tens grandes escolha: a partir desse ponto eles fazem o que quiserem. Trata-se tudo de uma questão de confiança nessa situação.
6. Respeita o ambiente deles
“A maior ameaça para os tubarões brancos, e para os tubarões, em geral, é a sobrepesca e o sobreconsumo para sopa de barbatana de tubarão e produtos de tubarão. Os anzóis que as pessoas usam e deixam a flutuar nos oceanos não discriminam no que diz respeito a que animais marinhos vão apontar num dado dia”, sublinha Will Allen. “Por isso, se um destes anzóis se encontrar em água de tubarões brancos, estes estão em grande perigo. No total, pescam-se entre 120 e 200 milhões de tubarões [de todas as espécies] por ano.”
“Fora isso, os plásticos e a poluição são as próximas grandes ameaças aos tubarões brancos, talvez a par da sobrepesca. Eles não conseguem escapar ao que está a acontecer”, diz Will. “Vivem imersos na água e se essa está cheia de poluição, plásticos, químicos e mercúrio, não há saída. É triste. Se nada muda, em 20 anos, ver um tubarão vai ser extremamente raro. Espero mesmo que o Sharkwater Extinction consiga acordar o mundo para a ameaça ao seu bem-estar e, em última análise, à sobrevivência humana. Se não mudarmos agora estamos todos em perigo."