Rimas & Melodias
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Música

Conheça as minas que estão fortalecendo o rap nacional

Rimas & Melodias, Jessica Caitano e Rosa Luz contam detalhes de suas histórias
Escrito por Vinicius Felix
9 min de leituraPublished on
Se você ainda se pergunta “por que agora as mina rima assim?”, é bom dar uma passada na próxima sexta-feira no Escutaê, evento gratuito dentro da programação do Red Bull Music Festival São Paulo, que vai dar um panorama da atual presença das mulheres no rap nacional.
O momento de reflexão e celebração contará com apresentações do Rimas & Melodias (Alt Niss, Drik Barbosa, Karol de Souza, Mayra Maldjian, Stefanie Roberta, Tássia Reis e Tatiana Bispo), Rosa Luz, Yzalú e Jessica Caitano. Artistas que trazem suas músicas e histórias de diferentes lugares e realidades.
Para entender melhor um pouco a origem, a histórias e os gostos de cada uma delas, preparamos um questionário. Dá uma olhada no que elas têm a dizer:

Jéssica Caitano

Jéssica Caitano

Jéssica Caitano

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Como o rap e o hip hop entraram na sua vida?
Quando eu era pequena tinha um vizinho da minha mãe que ouvia Racionais, eu gostava muito da batida, não entendia muita coisa da letra, mas curtia o beat. Ainda pequena tive um contato massa com Nelson Triunfo, que é grande referência no Hip Hop, fui tomando o conhecimento da poesia que pulsa aqui na região do Pajeú e uma coisa foi puxando a outra, quando percebi, tava cantando embolada com pegada de RAPente.
Quando você decidiu fazer música? Quais foram seus primeiros passos nesse sentido?
Eu sempre me imaginei fazendo música, e eu fazia música quando era pequena também, brincando, gostava de ouvir os discos de embolada de painho e pensar que era eu quem tava cantando, Lindalva do pandeiro. Em 2007 uns amigos me chamaram pra cantar numa banda cover, tocava umas músicas de brega né, era massa, fui percussionista de outras bandas, depois tive meu primeiro trabalho autoral em 2011 e de la pra cá venho encontrando com pessoas incríveis que acreditam na mensagem que tento passar.
Nessa trajetória quais foram suas principais inspirações?
Minhas principais inspirações são primeiramente minhas avós e minha mãe, que muito me ensinaram de música sem nem perceber, quando transmitiram toda ancestralidade e poesia presente na vida que tiveram, a poesia Pajeuzeira, a boniteza da natureza aqui do alto sertão, minha vivência na zona rural, é o que me inspira.
O Brasil é um país machista. O mercado da música não é diferente. Como se lida com esse problema?
Infelizmente não é só na música que a gente lida com o machismo né, são em todos os espaços, diariamente, desde sempre, ocupar e resistir é o que a gente sempre fez, e vamo ter que continuar, agora com mais força né.
O Escutaê é sobre a voz feminina ter hoje um maior protagonismo no rap nacional. Antes desse momento, que minas inspiraram você?
Meu primeiro contato com mulher rimando foi com as cantadeiras e emboladeiras de coco aqui da região, então eu gostava muito de Lindalva do pandeiro, Mocinha de Pacira tocava na rádio, ouvia Aurinha do coco, dona Selma do coco, tinha a história de Olindina, que era uma mulher da comunidade Quilombola das Águas Claras aqui de Triunfo, que cantava e dançava coco nos terreiro desafiando os costumes da época de que apenas homens podiam participar do festejo. Depois desse contato maior com a internet, eu descobri Karol Conka usando o sample de ''Boa noite meu senhor e senhora'' aí pronto, tudo mudou na minha vida.

Rosa Luz

Rosa Luz

Rosa Luz

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Como o rap e o hip hop entraram na sua vida?
Rosa Luz: Cresci num lote com 3 barracos e tinha um primo que ouvia Racionais o tempo todo, até o dia que foi preso. Os beats sempre fizeram parte da minha vida, porque a cena do RAP nas periferias do DF é bastante forte. Lembro que, ainda criança, saí pra comprar um CD pirata e voltei com um disco da Atitude Feminina e outro do Guindart 121. Acredito que foi na infância que o RAP entrou na minha vida, mas só fui sentir a força do movimento hip-hop quando eu era adolescente.
Quando você decidiu fazer música? Quais foram seus primeiros passos nesse sentido?
Em 2015 eu participava de coletivo de artes visuais que fazia apresentações baseadas no improviso. Nessas apresentações eu nunca cantava, pois não tinha coragem. Até que um dia fui e quando vi estava cantando. Foi libertador.
Nessa trajetória quais foram suas principais inspirações?
As mulheres no RAP sempre me inspiraram. Pioneiras como Dina Di e Vera Veronika, mas também as minas da cena atual: Tássia Reis, Brisa Flow, Rap Plus Size, Abronca, Mirapotira, Batalha das Gurias, etc. Além das manas do rap também me inspiro em sons como Viela 17, DV Tribo, Racionais MCs, Edgar, KL Jay, Slim Rimografia, Tribo da Periferia, Projeto Preto, etc.
O Brasil é um país machista. O mercado da música não é diferente. Como se lida com esse problema?
Se o mercado da música trata as mulheres de maneira machista, imagina eu que sou uma travesti? No começo nenhum mano queria trabalhar comigo, mesmo curtindo meu som. Na minha quebrada eles produziam todos os caras de graça, mas eu tinha que pagar. Nenhum DJ topava se apresentar comigo, então eu mesma dava play nos beats. Isso foi mudando quando postei meu primeiro vídeo na Internet, que teve mais de 100.000 views no Facebook. Foi quando percebi meu potencial. Depois disso criei um canal no YouTube, o Barraco da Rosa TV, e no momento minha estratégia pra sobreviver nessa cena é mesclar minha arte com comunicação, para que as pessoas percebam que antes de eu ser essa travesti belíssima, também sou humana e mereço ser respeitada.
O Escutaê é sobre a voz feminina ter hoje um maior protagonismo no rap nacional. Antes desse momentos, que minas inspiraram você?
Além das mulheres que já citei, também me inspiro em outras mulheres trans que estão produzindo hoje: Monna Brutal, Danna Lisboa, Natt Maat, Zaiiah.

Rimas e Melodias

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Como o rap e o hip hop entraram na sua vida?
Tássia Reis: O rap estava próximo, mas ainda não havia se tornado parte da minha vida. O Hip Hop chegou primeiro através das danças urbanas, quando eu tinha 14 anos. Marcou a minha adolescência porque eu queria muito dançar, mas não sabia que a Cultura Hip Hop era muito mais do que esperava. Tive o acesso a obras e informações que colaboraram para um despertar mais crítico e também o início da minha formação política. Também colaborou para uma melhor compreensão da minha identidade. Foi um choque e foi ótimo pra mim. Eu tinha sede de aprender, e isso me conectou a outras histórias como a do jazz, por exemplo.
O Rap chegou sútil, já estava lá sendo a trilha sonora das danças, as brincadeiras de freestyle nas idas e vindas dos roles gratuitos que rolavam em Jacareí e SJC, quando eu vi estava rimando! Quando achei que era possível, mesclei a tudo que eu tinha de referência na minha vida, da minha família, do samba, do jazz, da dança e incorporei no rap que eu faço. Foi mais ou menos.
Quando você decidiu fazer música? Quais foram seus primeiros passos nesse sentido?
Alt Niss: Eu comecei a cantar criança então a única coisa que estava ao meu alcance era a dedicação por conta própria, e provavelmente a mais importante pra qualquer artista. Eu gastava muito tempo treinando. Quando eu comecei a “trabalhar” com a música de fato eu fiz aulas de técnica vocal. Foi por pouco tempo, mas foi muito importante. Se eu tivesse tido recurso pra isso, teria estudado muito mais. Ainda acredito que a dedicação é o mais importante de tudo.
Nessa trajetória quais foram suas principais inspirações?
Alt Niss: Eu ouvia muita coisa se tratando de R&B e Rap também por ser muito interligado. Mas de todas as coisas existem artistas que trazem uma inspiração diferente e que ampliam a visão de originalidade, estilo próprio etc. Então, vou destacar algumas que me trouxeram, além de tudo, esse senso: O Lauryn Hill foi uma grande influência. Toni Braxton foi uma das minhas primeiras paixões. India Arie, Lalah Hathaway, Zhané, são algumas das minhas principais influências.
O Brasil é um país machista. O mercado da música não é diferente. Como se lida com esse problema?
Mayra Maldjian: A gente até respira fundo quando chega essa pergunta – ainda mais no momento político que estamos vivendo –, mas a real é que nenhuma de nós aguenta mais e gostaria de ter que respondê-la. É um saco ter que ficar explicando para os homens que eles estão sendo machistas ao não incluírem nenhuma atração mulher no line-up. Isso sem mencionar o recorte racial e musical, já que estamos falando aqui de um grupo de maioria negra e que faz rap. Eu lido do jeito que eu aguento lidar naquele momento, mas não costumo ficar quieta. Ao mesmo tempo, procuramos trabalhar com cada vez mais mulheres, estamos criando uma rede que só cresce e se fortalece, num futuro breve boto fé que vamos dominar real o universo da música em tudo que é área e isso é indiscutível.
O Escutaê é sobre a voz feminina ter hoje um maior protagonismo no rap nacional. Antes desse momento, que minas inspiraram você?
Tatiana Bispo: Eu tenho a sorte em poder dizer que boa parte das minas que me inspiram no cenário, estão comigo no Rimas & Melodias. Sou suspeita a falar, mas eu admiro real cada uma delas e essa admiração aumentou muito mais quando ficamos mais próximas por conta do grupo e eu pude conhecer melhor o corre de cada uma delas. Elas são guerreiras rainhas mesmo. Eu também gosto bastante da Dory de Oliveira, Alinega, Preta Ary e Bia Doxum. O trabalho delas é demais, eu sinto muita entrega delas, o que me inspira bastante.
Red Bull Music Festival São Paulo | Escutaê
Celebre a voz feminina no rap nacional no Escutaê. O evento gratuito acontece na sexta (23), a partir das 19h, na Praça do Patriarca.